Estamos em um avião. Enquanto a comissária pede para que
todos apertem seus cintos (devido a uma pequena turbulência), um passageiro
tenta se justificar com a pessoa ao seu lado, dizendo que não fala alemão; um
pouco atrás, outro passageiro começa a passar mal, suar, ele pega sua maleta e
se automedica com uma injeção; a pessoa ao lado oferece um chiclete, explicando
que aquilo não passava de uma tempestade, mas o misterioso passageiro levanta –
ainda suando – é seguido pela comissária, que o vira e percebe que a pele dele
começa a cair, se desintegrar. Logo o fenômeno se espalha pelo avião e todos
começam a perder cada parte do seu corpo. E, assim, no dia 09 de setembro de 2008,
tivemos o nosso primeiro evento fringe.
No mesmo episódio, Olivia estava em um motel com
John Scott, sem ter ideia do que a esperava, Peter estava em Bagdá, fugindo de
credores, Walter estava em St. Claire e Astrid estava prestes a se tornar parte
da equipe mais incomum que ela poderia participar.
Sem
perceber, passamos por todos os altos, baixos, choros, sorrisos, perdas,
encontros, reencontros e, muitas vezes, nos pegamos no lugar dos próprios personagens,
tentando descobrir como um cérebro escorre pelo nariz, olhos e ouvidos,
drogando uma lagarta, tirando leite de Gene, atravessando universos,
participando de episódios alucinógenos em forma de desenho. Queríamos descobrir
sobre o homem porco espinho, enfrentar os transmorfos, ver como é, de verdade,
um sangue prateado, trabalhar, nas experiências, ao lado de Walter. A série,
realmente, conseguiu nos prender do início ao final, apesar do fantasma do
cancelamento que não nos deixava dormir direito.
Quando
vimos, já estávamos na quinta temporada e, então, nos lembramos de tudo: o
primeiro evento (que deu início a tudo), o tanque de privação sensorial (e as
tantas vezes que Olivia o usou), os observadores (que, antes, nos deixavam sem
resposta, depois, pareciam ajudar e, no fim, bom, o fim...), Jones, Cortexiphan
e as crianças (adultos) mutantes, dois universos, morte de Charlie, experiência
em Jacksonville, poder da Olivia, Peter é de outro universo. BOlivia pode, até,
não ter caráter, mas é divertida e tem um filho de Peter...
...mundos
caem, Olivia leva um tiro, Peter é esquecido, William Bell, ataque dos
observadores, Etta é sequestrada, todos são retirados do âmbar em 2036, Etta
morre, Peter com chip, Fringe homenageia Monty Python, Nina Sharp não é do mal,
September (Donald) e seu filho, Walter se lembra do nome de Astrid, Walter e
Michael (filho de September) salvam o mundo e tudo volta ao normal, , glyphs code, a tulipa branca e Astrid.
Nos últimos tempos, Walter se lembrou do nome dela e nós, também, sempre nos
lembraremos.
Foram, exatamente, 100 episódios para nos lembrarmos, 5 anos
e muitas noites acordados vendo e revendo todas as histórias – isso, sem
contar, as aberturas que mudaram várias vezes, para dar o novo tom para a
série, mas, no dia 18 de janeiro de 2013, tivemos que dar adeus à Fringe, tive que dar adeus à minha série
preferida que estava, sim, tendo o seu digno final.
Fringe foi além da ficção científica e nos mostrou que
podemos ter todos os elementos em uma produção: podemos falar de ciência,
amizade, amor, futuro, vida e, claro, com algumas grandes pitadas de humor,
afinal, quantas vezes não nos vimos bobos e felizes por Gene, simplesmente,
aparecer? Fringe nos ensinou que não
precisamos nos contentar com o que o “limitado” universo nos oferece, mostrou
que, sempre, há a possibilidade de um recomeço, mesmo que ele pareça distante
e, quase, impossível, disse que, não importa a distância, tempo ou maneira de
termos qualquer coisa – Walter foi a outro universo para ter seu filho de
volta.
No
final, tudo se trata de esperança e de pensar que, e alguma forma, os universos
paralelos encontraram uma forma de sustentar a nossa favorite thing, aquela que nos ensinou que o mundo é muito pequeno
para nós, para eles e para os (re) começos. Podemos ficar sem Fringe por 2, 3, 27, 52 anos, mas ela,
sempre, estará em nós, mesmo que por uma simples tulipa branca.
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